Cheguei para viver no Recife em julho de 2010. Já conhecia a cidade e tinha vindo outras vezes desde 2008, mas 2010 foi o ano da mudança definitiva de Madrid. Desde então tem sido quatro anos e meio de aprendizagem contínua. Nova cidade, novos costumes, imersão total em outro idioma. E muitos desafios. Muitíssimos. Tantos que às vezes as coisas mais simples resultam extremamente complicadas. Aprendi com cada dificuldade. A superação de cada problema me deixa mais forte.

Uma mudança como a que fiz, sem caixas nem móveis, chegando somente com as malas me trouxe uma lição:

A felicidade não está nas coisas, está nas experiências que somos capazes de viver e de criar a partir de nossas decisões.

O desapego pelas coisas materiais e a busca por uma vida mais rica em experiências tem sido sem dúvida uma constante nestes últimos anos de constantes desafios.

Junto com os desafios, muitos descobrimentos. Muitos momentos de aprendizagem, de alegria, de amizade, de amor. Nesta cidade, encontrei uma nova família que me acolheu de braços abertos. Casei com o homem da minha vida e fiz amigos para sempre. Destaco especialmente minhas primeiras amigas, aquelas artistas maravilhosas que conheci pouco tempo depois de chegar. Acolheram-me como uma das suas e nossos momentos juntas guardarei sempre como os mais divertidos e criativos em Recife. Amigas até hoje, amigas para sempre. Mas tem muito mais: amigos de minha experiência durante um ano e meio trabalhando em uma empresa local; amigos de diversos eventos de empreendedorismo com os que colaborei; amigos de Fernando que passaram a ser meus também.

Por último e não menos importantes, amigos espanhóis e de diversas nacionalidades com os quais nos últimos dois anos formamos uma grande família de expatriados. Uma rede de ajuda permanente, de nostalgia compartilhada e de objetivos superados para seguir adiante apesar da distância de nossos países e dos nossos contextos conhecidos. AsEspanholas de Boa Viagem são maravilhosas. Sempre presentes, sempre próximas, sempre dísponiveis, com o sorriso e os brazos abertos. Incríveis. E asi será para sempre, apesar da distância que a vida nos traz aos poucos.

Muita aprendizagem. Muitas experiências. Desde a de ser tia de sobrinhos maravilhosos, até a de mergulhar em constantes e n ovos interesses próprios de minha natureza inquieta. Desde a moda sustentável até o Design Thinking; desde a história do Brasil à economia do compartilhamento. Desde conhecer o complicado mapa da cidade e conseguir localizar-me e ir de um lado a outro de carro ou de ônibus, até criar uma empresa, Novarth e conhecer todos os labirintos burocráticos. Experiências fantásticas conhecendo cidades brasileiras e praias maravilhosas, que às vezes chocavam pelo descaso e abandono do cuidado com a coisa pública. Um crescimento contínuo.

Tanto que se hoje olho para trás e faço um balanço, vejo o quanto tenho que agradecer a esta cidade.

              Tornou-me uma pessoa mais sábia, mais paciente, mais flexível, mais aberta.

Abriu meu horizonte não somente por ter a sorte imensa de vê-lo, mexendo-se embalado pelas ondas, todos os dias pela janela de casa. Abriu-me novas possibilidades para descobrir e redescobrir-me. Esta cidade me deu o mar, o prazer de correr pela praia, o eterno verão e dias compartilhados com amigos. Ensinou-me a apreciar a gastronomia local, a admirar sua gente humilde e trabalhadora, a ser feliz nos pequenos momentos e com as pequenas coisas.

Horizonte y mar: vista desde casa

Recife me brindou com a oportunidade de superar-me cada dia ante todo tipo de desafio.

Desafios que todos aqueles que vivem aqui conhecem bem. A convivência diária e dura com a pobreza e a desigualdade. A infraestrutura precária. O excesso de carros. A impossibilidade de caminhar pelas ruas como sempre estive acostumada a fazer. A psicose, um tanto exagerada, em relação à violência. A ausência de espaços públicos de qualidade. Ainda assim, vislumbro esperança num futuro próximo. Em pouco tempo, tenho visto melhorias na cidade e nas atitudes de sua gente. Isso leva crer que mudanças para melhor serão possíveis nos próximos anos.

Minha recente participação como voluntaria na equipe de curadoria do TEDx Recife faz que mantenha a esperança: conheci pessoas fantásticas que acreditam que outra realidade é possível para esta cidade. Com o tema As Revoluções Silenciosas, 11 palestrantes compartiram suas incríveis histórias de transformação o dia 16 de dezembro. Fernandoserá um deles. Uma história de superação impressionante. Um excelente ponto de partida.

Ainda assim o caminho das transformações necessárias no Recife é longo. Espero vê-las, quando retorne no futuro. Depois de viver tantas mudanças e transformações, observo como no final, todas tem sido para melhor. Agora é hora de partir. Aqui deixo minha casa, minha família, meus amigos. Mas, todas as recordações, os momentos e a aprendizagem, levo comigo. Já formam parte de mim e do que hoje sou. E isso é o que importa.

O mundo me espera, cheio de novos desafios, de coisas maravilhosas para conhecer e aprender. Para seguir mudando, para seguir crescendo, para buscar ser uma melhor pessoa.

2015 será um ano de novos descobrimentos e novos aprendizados. Um ano de experiências e de sonhos compartilhados.

O mundo nos espera. Nós vamos. Partimos.

Um ano sabático cheio de projetos que esperamos compartilhar com todos vocês.

Cristina

Atlántico Sur, Brasil.   (8°3′14″S,  34°52′51″W)

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