Cidade de BogotáO primeiro impacto ao se chegar a Bogotá, provavelmente é o clima. Apesar de mentalmente preparados para a altitude média de 2.600m, surpreendemo-nos com a realidade de uma grande capital fria e cinzenta. Mas apesar disso, habitada por gente calorosa e acolhedora. O ar poluído da cidade, construida sobre uma meseta e cercada por montanhas, é o resultado indesejado da grande frota poluente de micro ônibus. De vários tamanhos, formatos e idades, eles cortam a cidade em alta velocidade, usando a buzina como se fosse possível varrer do caminho os quase nove milhões de habitantes que convivem na metrópole.

Seguimos com nossas experiências na Arte de Partir, explorando a economia compartilhada

Desta vez decidimos experimentar algo novo: viver em uma casa cultural colaborativa. Com variada programação, a casa de três pavimentos, e várias salas, movimenta programação que inclui desde aulas de Yoga, cursos de música, canto, dança e pintura, até feirinha de produtos orgânicos. Seus três quartos são alugados via Airbnb. Foi fácil reservar um deles, por menos de U$18 a diária de casal, sem incluir alimentação e com banheiro compartilhado. Um exercício de flexibilidade além de oportunidade de conhecer a diversificada alimentação matinal colombiana. Existem muitas padarias no bairro e tomar o café da manhã numa delas é um hábito típico dos bogotanos. É fácil encontrar também frutas tropicais servidas descascadas e cortadas em grandes copos plásticos nas esquinas e regiões de maior movimento.

Trabajo en bibliotecas públicasDesde que chegamos, montamos um intenso programa de visitas e trabalho em bibliotecas públicas. A cidade possui uma rede de mais de vinte. A maioria delas, novas e modernas, especialmente a Miguel Ángel Arango a Virgilio Barco (do sistema municipal) e a da Câmara de Comércio de Bogotá.

Nosso lado explorador nos levou a experimentos bastante variados nas quase três semanas que passamos na capital colombiana. Participar de um “baile de Salsa” e hidratar o corpo com suco de lulo, fruta ácida, originária dos Andes ou “limonada de panela” (refresco de limão adoçado com rapadura) fez parte da aventura. Desfrutar do clima frio e gostoso da cidade e caminhar pelas ruas do centro misturados à multidão é a melhor forma de aclimatação.

Plato típico colombianoPudemos ainda provar: Comer Tamal (arroz, milho, carne de porco e frango temperados de forma fantástica). Provar o sancocho: sopa de pescados com batatas, deliciosa! Tomar “caldo de costillas” com arepas e comer almojabanas de sobremesa.Tomar chá de coca especialmente nos primeiros dias de adaptação à altitude andina. De preferência, acompanhado por arepas e caldo de costilla. Pedir um “tinto” num bar e ser servido de um café puro (nosso cafezinho, mas em tamanho grande). Comida farta, saborosa e barata, museus de padrão europeu, e muitas lições de vida.

Os melhores museus são gratuitos

Museu Nacional, Museu Botero (atração número 1 da cidade) e Museu do Ouro (para os maiores de 60 anos).Museo del Oro, Colombia

Falamos com pessoas de diferentes formações, conhecemos iniciativas e projetos. Especialmente alguns ligados ao uso de impressão 3-D para criação de próteses para vítimas da violência e de malformações genéticas.
Fomos ao teatro. Usamos Uber, mesmo sabendo que aqui a rixa entre taxistas e uberistas é alimentada pelo estado. Aprendemos a lidar com os muitos zeros da moeda local, o peso colombiano. Um real brasileiro vale mil pesos colombianos!
Praticando o que pregamos em nossos seminários e no livro Volta ao mundo em 80 dicas, usei bastante a “rubber band” (tira de borracha para exercícios que trouxemos na mochila. Intensifiquei a prática de meditação, fazendo dois períodos diários de 10min cada, pela manhã e à noite. Visitamos ainda espaços de coworking e experimentamos pela terceira vez em nossa Arte de Partir, o que é residir numa casa de madeira.
Pelo boulevard, passeadores de cães como em Buenos Ayres. Poucos mendigos nas ruas, mas muitos cães soltos com focinheira e seus donos ao largo. A maioria das mulheres, parece saída de um salão de beleza após sessão de alisamento japonês. Cabelos lisos e longos, muita valorização da aparência.

A infraestrutura local

Se retiramos o quesito transporte coletivo público, também é muito boa. Bebe-se água diretamente das torneiras, o que para mim é um exemplo de evolução urbana suficiente para catapultar a capital colombiana para o “top five” das cidades da América latina.

Duas palavras-chave que levamos daqui: solidariedade e esperança

Mural urbano, Colombia A solidariedade, receptividade e hospitalidade do povo colombiano está bem retratada nas ruas e no dia a dia de sua colorida e multiforme capital. A esperança, por outro lado, parece ser um valor cultivado pela população jovem e pelos que sofreram sequelas da guerrilha interna que se arrastou por mais de 50 anos e que parece não ter acabado. As causas fundamentais, concentração de renda, posse e propriedade do território nas mãos de poucas dezenas de famílias e imensa desigualdade de renda, criam um entorno onde se torna difícil apostar num futuro melhor para todos. Mas o colombiano aprendeu a apostar no improvável. E na maioria das vezes, tem ganhado a aposta.
“Colombia: the only risk is wanting to stay” era o que dizia o insistente comercial nas cadeias de TV americanas nos anos 90 quando a guerrilha ainda era um tabu. Hoje, se pode confirmar que a profecia virou realidade.
Se você pensa em viver em uma cidade latina, de povo amável, clima de montanha, boa internet, alimentação boa, bonita, barata e preços que fazem o Real se sentir poderoso, bienvenido a Bogotá!

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