É difícil descrever o que sinto ao pisar outra vez o solo da cidade que mais marcou minha vida: Seattle. Reativar conexões, rever amigos, respirar novamente o ar puro do noroeste americano. Encontrar em cada esquina uma espécie de hino à igualdade, um profundo respeito pelo ser humano. Caminhar com inigualável sensação de paz. Voltar à minha Universidade e entrar outra vez no templo do conhecimento, retratado nos filmes de Harry Potter, que frequentei assiduamente durante minha vida aqui: a Biblioteca Suzzallo–Allen. Ser recebido como ex-aluno, na minha querida Alma Mater: a Universidade de Washington. Uma das dez mais importantes Universidades americanas e também, um dos mais belos Campus. Poder compartilhar tudo isso com Cristina Balari, a mais intensa leitora que já conheci, aumenta o prazer das descobertas.
Ainda lembro do que susto que tive quando estudava na Odegaard Library, outra grande biblioteca da Universidade, onde costumava passar horas consultando o acervo multimídia. De repente, senti uma espécie de tontura. A primeira impressão foi de que estava passando mal. Olhei para o teto e vi o grande lustre central oscilando como um pêndulo. Quase que simultaneamente, todos os alunos que naquele momento frequentavam o hall de leitura entreolharam-se. Não tardou muito para percebermos que se tratava de um tremor de terra! Aquilo me fez lembrar o fato de que a cidade fica sobre o mesmo “cinturão de fogo do Pacífico” que corre paralelo à falha de San Andreas, e que se estende até o sul da América do Sul. Nesta região, a alta incidência de sismos e a expectativa do “Big one”, faz com que os temas prevenção e treinamento de sobrevivência sejam periodicamente tratados aqui.
Nos dias seguintes, um mergulho no mundo da inovação. Visitamos a Bill and Melinda Gates Foundation, onde na entrada se lê: “Entre curioso, saia inspirado”! Entramos. Deixamos contribuição sob a forma de ideias, e sugestões para os programas da Fundação. E saímos inspirados para fazer algo mais pela humanidade.
Todos os dias, onde quer que estivéssemos, sempre era possível estar em contato com o deslumbrante verde dos parques e reservas do estado de Washington. O verde é a cor oficial por aqui. O estado é chamado de “Evergreen State” e a cidade que lhe deu fama, foi batizada de Emerald city.
Num dos sábados, resolvemos ir ao Seattle Center. Apesar da manhã de vento forte e chuviscos eventuais, típicos desta região do Pacífico, havia como sempre muita gente. Gentileza e cordialidade a gente também encontra muito por aqui.
Cris optou por visitar a Chihuly Garden and Glass, uma exibição de fantásticos trabalhos de arte, feitos em vidro pelo artista local Fale Chihuly. Eu preferi retornar ao EMP – Experimental Music Project, o museu experimental de música, idealizado e financiado por Paul Allen, sócio fundador da Microsoft. Ali, assisti um show de Jimmy Hendrix e parei para escrever um pouco.
Nosso livro, Volta ao mundo em 80 dicas, ganharia muitas dicas inspiradas pelas experiências vividas no oeste americano.
Couchsurfing (hospedagem colaborativa), Workaway (trabalho voluntário) e muitos amigos na costa oeste e costa leste acabariam fazendo com que estendêssemos nossa permanência no país, sem passar uma noite sequer em hotéis. É a magia da colaboração e do compartilhamento.
Numa tarde, almoçamos no Seattle Center Armory, uma área dedicada a exposições e eventos. No verão, cada fim de semana é dedicado a um país ou cultura. Coincidimos com o dos povos árabes. Curiosamente, acabamos comendo num quiosque mexicano, servidos por uma jovem oriental. Matei a saudade do feijão-com-arroz, enquanto ouvia a bela música palestina apresentada por um grupo folclórico. Preconceito é palavra que não existe no dicionário desta cidade. Se o território da Alma tivesse capital, a minha se chamaria Seattle.
Durante um mês, ancoramos por aqui nossos sonhos. Explorar a economia colaborativa, por aqui chamada “sharing economy”, aprender mais sobre convivência, alta tecnologia e cuidados com felinos foi algo natural. As iniciativas inovadoras, o difundido conceito de colaboração e a cordialidade dos que vivem por aqui, são contagiantes.
E pensar que tudo isso começou numa noite de novembro de 2014, quando decidimos que era hora de inovar nossas vidas. Descobrimos que as alternativas existiam e que estavam ao alcance de nossas mãos e bolsos. E dos dedos do teclado. Foi aí que essa história toda começou.
Afinal, descoberta e inovação são a essência da Arte de Partir.
E você, quando vai incluir a cidade dos seus sonhos no roteiro da sua vida?